Na segunda-feira (3), a cidade de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, tornou-se o epicentro da cultura raiz pernambucana com a realização do Encontro dos Maracatus Rurais. O evento, que se estendeu até a madrugada da quarta-feira de Cinzas (5), celebrou durante três dias a beleza, a história e a ancestralidade de uma das cidades...
Nazaré da Mata celebra a tradição com grande desfile no Encontro dos Maracatus Rurais

Na segunda-feira (3), a cidade de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, tornou-se o epicentro da cultura raiz pernambucana com a realização do Encontro dos Maracatus Rurais. O evento, que se estendeu até a madrugada da quarta-feira de Cinzas (5), celebrou durante três dias a beleza, a história e a ancestralidade de uma das cidades mais emblemáticas do Estado.
O ponto alto da festividade foi o cortejo dos maracatus, que teve início às 8h no Parque dos Lanceiros, no bairro do Juá, seguindo em direção à Praça João XXIII, conhecida como Praça da Catedral. O desfile percorreu as principais vias da cidade, passando por patrimônios históricos que narram a trajetória local.
As 30 agremiações participantes, sendo 18 da cidade e outras 12 de municípios da região, exibiram a riqueza de suas fantasias, adereços e performances no trajeto até o palco "Pernambuco Meu País".
O desfile da realeza, representado por personagens da cultura afro-indígena, contou com a presença do rei e da rainha, figuras centrais que simbolizam a nobreza e a liderança dos grupos. Acompanhando-os, estavam o príncipe e a princesa, representando a continuidade da linhagem real, além de duques e duquesas, que enriqueceram a hierarquia da corte.
As damas do paço tiveram a responsabilidade de carregar as calungas — bonecas confeccionadas em tecido preto, que representam entidades espirituais ou ancestrais —, desempenhando um papel fundamental no cortejo. Além disso, os vassalos auxiliaram na condução do pálio ou guarda-sol que protegeu a realeza durante o desfile, enquanto as iabás, também conhecidas como baianas, enriqueceram a apresentação com sua presença e dança.
Outros personagens, como os caboclos de lança, apesar de não pertencerem à realeza, desempenharam um papel essencial na manifestação cultural, representando guerreiros com vestes coloridas e lanças enfeitadas.
Durante o percurso, os participantes e espectadores puderam apreciar marcos históricos como a Praça Escrava Ana Rosa, onde um monumento em argila homenageia uma escrava morta em praça pública, relembrando as lutas e resistências do povo negro. Outros destaques incluíram a Igreja de Santa Terezinha, com sua arquitetura neocolonial do século XX, e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1814, símbolo da fé e da história local.

Nazaré da Mata, emancipada em 17 de maio de 1833, carrega um legado que vai além dos seus limites geográficos. O município, com mais de 31 mil habitantes, foi historicamente um importante polo da economia açucareira, abrigando engenhos de cana-de-açúcar que impulsionaram o desenvolvimento regional. Além disso, integrou a rota internacional de exportação de sapatos de couro e algodão, conhecido na época como o "ouro branco".
Atualmente, a cidade é reconhecida nacional e internacionalmente como a Capital Estadual do Maracatu Rural, manifestação cultural datada dos séculos XVII e XVIII, que mescla influências africanas, indígenas e europeias.
Em 2014, essa tradição recebeu ainda mais reconhecimento quando o Maracatu de Baque Solto foi declarado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Esse título não apenas valorizou a cultura local, mas também atraiu turistas e pesquisadores de todo o país, interessados em conhecer essa expressão única da identidade pernambucana.
Além do cortejo, o evento contou com feiras de artesanato, comidas típicas e exposições que celebraram a cultura local. A Praça João XXIII, palco da apoteose do evento, tornou-se ponto de encontro para moradores e turistas, que puderam desfrutar de uma programação repleta de música, dança e tradição.
Fotos: Eudes Santana
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