Influenciadora digital, roteirista e social media, Ana Lu diz: "sou apaixonada por viver, me ajuda a não me esconder do mundo e deixar de fazer o que eu quero por não ter um corpo padrão."

16/12/2022

Ana Lu,

É uma mulher apaixonada por viver. Geminiana, 24 anos; mora em Ribeirão das Neves em Minas Gerais. Ela é completamente apaixonada por Harry Potter, jogos de tabuleiro, RPG, vídeo game e descobrir novas habilidades. Ela já trabalhou como vendedora, foi de criadora de conteúdo a designer de moda; e de designer de moda à influenciadora digital; à social media, redatora e roteirista.

Em seu perfil do Instagram, Ana Lu se comunica com mais de cinco mil pessoas, compartilhando sobre ideia de maquiagem para a pele negra, looks inspiradores para corpos gordos, além de compartilhar sobre filmes e series e muitas ideias criativas.

Você nos apresenta nas redes sociais, combinações de looks e acessórios para o corpo gordo. Na sua opinião, as empresas falham na hora de produzir roupas para o corpo gordo?

Falham, e falham muito. Desde peças que não foram feitas para as medidas de um corpo gordo, até modelagens mal feitas; muitas marcas fazem por fazer (para falar que atendem a todos os corpos) mas na prática, são peças sem informação de moda, e que são apenas para servir, e não vestir. Acredito que a internet nos possibilitou sair de uma bolha. Parar de comprar roupas que simplesmente servem, e começar a consumir e experimentar estilos que só eram possíveis para pessoas magras. Por isso que lojas como a Shein e Fashion Nova fazem tanto sucesso entre mulheres curvilíneas e gordas.

Muitas mulheres se inspiram em você. Como você se mantém empoderada e se amando, para motivá-las a se aceitar também?

A premissa que eu levo sempre comigo é: Independente de onde eu esteja, eu preciso olhar para mim mesma com carinho. Não é se amar porque você é gorda, ou fora do padrão, mas sim se amar porque você merece. Nós perdemos muito tempo, experiências e vivências por pensamentos como: "quando eu tiver aquele corpo... quando tal coisa acontecer... quando eu chegar em tal peso"; mas a real é que tem vida acontecendo no agora. Então, sim você precisa ligar o botão "tõ nem aí" e ir viver, independente do seu corpo.

E isso não significa se acomodar. Você pode amar seu corpo do jeito que ele é, assim como também pode amar seu corpo como ele é e querer mudar se quiser mudar. O ponto é: não se odiar, se envergonhar, ou deixar de viver porque ainda não está onde quer estar. 

Acredito que o processo do auto amor é constante e está sempre em movimento, tem dias em que é muito mais fácil amar a nós mesmos, mas tem dias que é um desafio. Mas me lembrar o quanto sou apaixonada por viver, me ajuda a não me esconder do mundo e deixar de fazer o que eu quero por não ter um corpo padrão.

Quais os desafios e as maravilhas você tem encontrado como influenciadora digital?

O maior desafio sempre foi o lado financeiro; quando decidi trabalhar como influenciadora, foi um investimento e empreendimento. Monetizar o meu conteúdo, e ter retorno e reconhecimento de marcas foi sem dúvida o maior desafio. Como maravilha, ser reconhecida pelos meus seguidores, ver a consideração e interação deles é com certeza o que me motivou a continuar. A minha régua é ver a transformação que eu causei ao meu redor. E até hoje, num momento em que estou menos ativa, eu vejo frutos disso. É muito gratificante.

Muitas mulheres negras, têm dificuldade de aceitar suas características; cabelo, traços faciais e o tom da pele. Você acredita que o racismo estrutural atualmente influencia nesse comportamento?

A internet pode ter sido uma benção em diversos quesitos; mas para algumas pessoas já fragilizadas, ela tende a ser cruel. Somos bombardeados com conteúdos irreais de pele "perfeita", corpo "perfeito", cabelo "perfeito" e de tanto ver esses padrões se repetindo, nos sentimos condicionados a parecer com aquilo. E aquilo é o que? O corpo padrão, nariz fino, cabelo liso, pele branca com sardas, o cabelo cacheado e não crespo... Somos bombardeados com esse tipo de conteúdo, e quanto mais a gente consome, mais queremos consumir e mais achamos que é assim que deveríamos ser.

Mas isso é corrigível. Procurar influenciadores que andam fora da curva nos ajuda a enxergar fora dessa bolha do padrão, e virar a chavinha e questionar "Cadê as pretas no meu feed?". Então seguir influenciadores reais, e que principalmente se pareçam com você é uma boa forma de começar a rejeitar essa pressão estética que dita de forma inconsciente - as vezes não - que você só vai ser bonito e aceito se tiver traços de pessoas brancas.

Quais mulheres negras te inspiram?

Atualmente eu acompanho essas mulheres, negras, gordas e que são inspirações pra mim. Tanto de comportamento e posicionamento, quanto estilo. Me identifico de várias maneiras com elas, e por isso se tornaram inspirações. @baddiesantana @elizadoblues @julliterra